Qual a sua deficiência?
Minha deficiência recebe o nome de “Sindrome de Charcot Marrie Tooth”. Mas também é conhecida como “Polineuropatia congênita hereditária”
(É como se meus nervos periféricos responsáveis pelos movimentos dos
membros superiores e inferiores tivessem nascido mortos, desligados ou
com falhas de eletricidade e com isso os nervos não recebem as
informações de movimentos de marcha enviadas pelo cérebro, além de
causar atrofiamento nos pés e mãos).
Teoricamente
tenho ela desde que nasci, porém ela se manifestou apenas aos 12 anos.
Começou com um forte desequilíbrio, que foi seguido de uma escoliose que
me ocasionou há 4 anos sérios problemas respiratórios, além de ter
perdido um pouquinho da audição que pode ter sido causada por vários
fatores como stress, herança genética ou consequência da minha
deficiência. Hoje faço uso de cadeiras de rodas, faço uso de oxigênio
durante o dia e durmo de bipap durante a noite.
Como foi sua infância?
Aos 5
meses de idade tive uma pneumonia na qual fiquei entre a vida e morte
digo que sou como um gato danado tenho 7 vidas e vivo dando susto na
minha família ou uma fênix que quando parece que estou por um fio
renasço novamente. Minha infância foi como qualquer outra criança. Eu
corri, pulei, brinquei, fui para a escola em um colégio que estudei do
ensino infantil ao ensino médio.
Na minha
pré -adolescência que foi quando minha deficiência se manifestou nessa
época tive a fase ” aborrência” e do “medo”.
Eu não aceitava muito o
fato de eu não poder usar um sapato de salto ou de caminhar sozinha e
medo de ficar para titia rsrs.
Nessa época eu fazia tratamento na AACD onde passei por Psicólogo e que eu me lembre passei apenas por 2 sessões, mas que deram ótimos resultados.
E
nessas 2 sessões duas coisas que a psicóloga me disse e que uso como
filosofia de vida é “nem tudo é como a gente quer ” e "não importa se
Você é gorda, magra, careca, com perna ou sem perna,se anda ou usa
cadeira de rodas, muleta etc…Quem tiver que gostar de você irá gostar do
jeito que você é" .
Depois disso nunca mais me preocupei em ficar para
titia e nem revoltada por não poder usar um sapato de salto ou caminhar
sozinha.
O
restante da minha adolescência foi como na maioria saia com amigos
,para cinema,boliche, baladas . A única coisa que mudava um pouquinho é
que meus pais iam junto comigo, porém ficavam de longe na maioria das
vezes mais isso nunca me incomodou.
Nos fale um pouco de sua vida escolar e acadêmica
Tenho
nível superior completo em Psicologia. Da minha vida escolar estudei no
mesmo colégio do ensino infantil ao ensino médio. Nunca tive problemas
de relacionamento com meus colegas ,professores ou funcionários. Sempre
me ajudaram no que precisei.
Aos
12 anos quando surgiu a minha escoliose eu não podia carregar minha
mochila devido ao peso ai então os professores organizaram os meus
colegas de classe para que cada dia um me ajudasse na hora da saída, na
entrada minha mãe ou meu pai me levavam até a sala de aula, na sala de
aula os professores me davam mais tempo para fazer prova e copiar
matéria da lousa e quando era coisas ditadas os professores deixavam eu
xerocar do do caderno de alguém.
Quando
havia passeios eu sempre ia e a escola providenciava uma pessoa para
cuidar de mim. Durante a faculdade isso permaneceu, participei de
congressos, trabalhei como monitora, enfim minha vida escolar e
acadêmica foi bem tranquila,me formei em 2007 com 23 anos.Sempre fui uma
boa aluna e a minha deficiência nunca me atrapalhou.
Qual sua profissão?
Sou Psicóloga.
Enfrentou ou enfrenta dificuldades no trabalho ou no mercado de trabalho? Quais?
Infelizmente
ainda não atuo e nunca trabalhei formalmente. Já fiz estágio em
atendimento clínico que fazia parte da grade curricular da faculdade.
Já fiz várias entrevistas, todos me elogiam, mas quando chega na parte médica todos me barraram cada um com uma desculpa (um fala que o local não é adaptado, outro porque não sou totalmente independente para fazer algumas coisas, outros devido a audição ou por minhas mãos serem atrofiadas).
Já fiz várias entrevistas, todos me elogiam, mas quando chega na parte médica todos me barraram cada um com uma desculpa (um fala que o local não é adaptado, outro porque não sou totalmente independente para fazer algumas coisas, outros devido a audição ou por minhas mãos serem atrofiadas).
No meu ponto de vista a lei de cota apenas “funciona” com pessoas que não tenham deficiências complexas. Sobre a relação com os colegas de trabalho creio que me daria bem com todos por eu ser uma pessoa de fácil convivência.
Para você como é ser mulher com deficiência num país, cujo padrão de beleza é o da barbie ( que é ser magra, alta, peituda, saudável, jovem, loira e ter um corpo “perfeito”)?
Sobre
esse assunto sou muito suspeita pois sou bem vaidosa, me acho linda e se
eu não tivesse nenhum problema eu brinco que seria perfeita demais. E
como perfeito só existe Deus e por isso eu tive que sair com alguns
defeitinhos de fábrica rsrs. Eu graças a Deus não tenho complexo do meu
corpo (Digamos que estou quase nos padrões da sociedade: Jovem, com boa
saúde, loira, com bumbum grande, perna grossa).
Você acredita que as pessoas te veem a partir da maneira como você se sente e se percebe?
Acho que
antes de mais nada seja uma pessoa com deficiência ou não, tem que em
primeiro lugar se amar e se admirar e principalmente se aceitar do
jeito que ela é. Pois se você própria não se ama, se admira e se aceita,
as outras pessoas também não irão, da mesma maneira se você tiver
preconceito de si mesmo as, outras pessoas também terão, resumidamente
seria uma relação de causa e efeito.
Meus
truques de beleza: No dia a dia sempre uso batom e passo creme
príncipalmente na região do cotovelo e calcanhar que são mais
ressecadas. Já nos finais de semana faço make completo com (sombra,
blush, rímel, delineador, pó, base, corretivo e lápis).E faço as unhas
em casa. Vou ao cabeleireiro a cada 4 meses fazer luzes e cortar o
cabelo e sempre que necessário vou para fazer hidratação.
Enfrenta ou já enfrentou alguma dificuldade para ter acesso a salões de beleza, clínicas de estética etc? Quais?
Os 2 salões que frequento ambos possuem acessibilidade.
Porém já teve vez que queria ir a outros e quando liguei para marcar
fui informada que o local não tinha acesso. Em outros lugares como por
exemplo hotéis, uma vez liguei pra fazer reserva quando perguntei se
havia quarto adaptado, a atendente respondeu que “não porque o hotel não
havia sido construído para aquele tipo de gente”.
E quando o assunto é a sexualidade das mulheres com deficiência, ainda existem muitos empecilhos?
Acho
que esse assunto ainda existem muitas dúvidas, falta de informação,
medo e um pouco de preconceito. E é algo que varia muito, tem a ver com a
cultura de onde se vive, religião e a maneira de como a pessoa foi
criada. No meu caso não tenho dificuldades namoro há 4 anos e 5 meses.
Não tenho uma vida sexualmente ativa, mas não pela minha deficiência e
sim pela maneira que fui criada.
Como esses empecilhos podem ser desfeitos?
Acho
que não existe fórmula mágica para quebrar esses empecilhos, mas creio
que o diálogo com a família, profissionais e para com o maior
interessado a própria pessoa com deficiência, e se for o caso o namorado
para explicar a situação real e ver se ele está realmente disposto a
enfrentar as limitações e dificuldades que possam surgir e juntos
buscarem informação. Mas de fato o que importa é que ambos se aceitem e
sejam felizes.
No tocante a saúde da mulher com deficiência, os consultórios ginecológicos estão preparados para nos receber?
No
geral acho que não. Normalmente eles, os consultórios são pequenos e as
camas são muito altas. Como não sou sexualmente ativa o ginecologista
ainda não me examina internamente,então neste ponto por enquanto não
tive problemas com essa parte.
Você enfrenta ou já enfrentou alguma dificuldade para fazer consultas ou exames ginecológicos?
Já
aconteceu do médico não conseguir fechar a porta por causa da cadeira
de roda. As vezes quando vou fazer exames tenho dificuldades de entrar
na sala pois são tão pequenas que mal cabe a enfermeira.
Um recado para nossos gestores e para a sociedade em geral, incluindo os que visitam o Casadaptada
Meu
Recado para a sociedade, jovens com ou sem deficiência, idosos,
gestores e leitores do Casadaptada é: Nunca deixe de fazer as coisas que
deseja devido alguma deficiência ou problemas que surgirem durante a
vida. Não se isolem com medo do que os outros irão falar ou pensar.
Estudem
mesmo que necessitem de auxílio para entrar e sair da escola, não se
sintam envergonhados por precisar de ajuda, coloque a cara na rua saia
curta a vida mostre para a sociedade que você existe, pois somente assim
os lugares se tornarão acessíveis por que eles sò irão saber que o
local necessita de adaptações se você passar a frequentar o local.
Se ame e se aceite,se arrume e seja feliz pois só assim as pessoas irão se aproximar de você.
Reporter: Claudia Medeiros
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