
Como é conhecimento, crianças com deficiência visual
aprendem a ler com a ajuda do Braile; sistema de leitura com tato para
cegos. Mas e no caso dos filmes? Como conseguem compreender com o máximo
de detalhes o que se passa em uma história cinematográfica?
Essa
questão já foi resolvida com a ajuda da audiodescrição (AD), recurso que
traduz do visual para o verbal os cenários, as ações, os figurinos,
dentre outros elementos que não fazem parte dos diálogos das
personagens.
O que falta, no entanto, é a sua inserção ainda no processo
de confecção dos DVDs e Blu-rays, para que cheguem às lojas já contendo
este benefício à disposição da pessoa com deficiência visual.
Para Bianca Chaló, mãe de uma menininha de apenas
quatro anos com deficiência visual, encontrar DVDs e Blu-rays com
audiodescrição à venda, seja pela Internet, seja em lojas físicas, é
algo muito difícil. Moradora de Bauru, Bianca diz que desde que passou a
procurar por filmes infantis com audiodescrição encontrou bem poucos.
Atualmente possui apenas quatro, sendo três deles da Turma da Mônica.
“Antes de conviver com a deficiência visual eu desconhecida a existência
deste recurso inclusivo tão importante para a pessoa com deficiência
ter acesso ao conteúdo audiovisual de modo mais completo.
No entanto,
desde que eu soube da existência da audiodescrição, passei a buscar
filmes que contenham o recurso e dificilmente encontro, pois são poucos
os que saem com ele das distribuidoras”, relata.
Segundo Bianca, a quase inexistente inserção do
recurso de audiodescrição nos filmes infantis torna o acesso ao
conteúdo, tanto por parte da sua filha, quanto do público infantil, de
um modo geral, preocupante.
“A Nicole adora assistir filmes com o irmão
que não tem a deficiência, mas muitas vezes se recusa porque não
consegue entender o contexto da obra devido a falta do recurso na
maioria deles.
Quando o DVD não tem a audiodescrição eu fico do lado,
tentando descrever o que se passa, mas isso nem sempre é possível porque
tenho que cuidar das tarefas da casa, e quando isso ocorre ela fica
triste, se recusa”, conta a mãe.
Linguagem e palavras
Além da escassez de filmes com AD, Bianca já notou
alguns cuidados que devem conter os filmes com o recurso. Um, que
considera muito importante, é a contextualização da história antes do
início da exibição; uma introdução, para ajudar a criança entender do
que trata o enredo do filme. Outro ponto é o cuidado com a linguagem e a
escolha das palavras, principalmente para crianças até cinco anos.
Segundo Paulo Romeu, responsável pelo Blog da Audiodescrição e militante
pela acessibilidade da pessoa com deficiência visual, há diferenças no
desenvolvimento da audiodescrição infantil e adulto, começando pela
entonação da narração e a elaboração de um roteiro apropriado.
“A
narração tem de ser mais interpretada, com entonação apropriada ao
público infantil. A linguagem precisa ser adequada à faixa etária e o
ritmo deve fluir de acordo com o contexto do filme”, explica Paulo
Romeu.
Atualmente no mercado nacional existem poucos filmes
produzidos para o público infantil já com audiodescrição. Um exemplo
dele é o Smurfs, lançado em agosto de 2011, pela Sony Pictures, com
roteiro de audiodescrição da Iguale Comunicação de Acessibilidade.
Outros também lançados com este recurso, no Brasil, foram: A Turma da
Mônica, Muppts, Tá Chovendo Hambúrguer, Hotel Transilvânia, Castelo
Ra-tim-bum e Matilda. No entanto, o número de filmes comercializados nos
formados DVDs e Blu-rays para a criançada é muito pequeno diante da
grande produção de obras cinematográficas lançadas todos os anos, em
todo o mundo.
Ainda segundo Paulo Romeu, 90% dos filmes
distribuídos no Brasil vêm dos EUA e cerca de 30% deles vêm com
audiodescrição, mas não em português, o que os tornam também pouco
acessíveis.
“O ideal é que venham com a audiodescrição já em Língua
Portuguesa”, ressalta. Bianca pretende engrossar a luta das pessoas com
deficiência por seus direitos e um dos temas que faz questão de colocar
na pauta é o da audiodescrição nos filmes infantis.
“Eu acredito que os
novos filmes já deveriam sair de fábrica com a audiodescrição. Ao
deixarem de incluí-los, acabam excluindo as demais pessoas com
deficiência visual de ter acesso ao conteúdo de suas obras, o que é
injusto”, opina a mãe da pequena Nicole.
Breve descrição da imagem: Sentada em frente ao
computador, a pequena Nicole sorri, segurando em suas mãos uma miniatura
da Smurfette, enquanto assiste ao filme Os Smurfs. Sobre o móvel de
madeira escura à sua frente, onde está o computador, um notebook preto
que tem uma das cenas do filme na tela, estão mais alguns bonequinhos
dos Smurfs e a capa do DVD do filme que assiste. Do lado direito desta
mobília própria para computadores e lado esquerdo da imagem, atrás da
sorridente garota, tem uma cortina bege. Nicole tem a pele clara, olhos e
cabelos castanhos, ondulados e longos que se estendem pouco abaixo dos
ombros. Usa um enfeite rosa no lado esquerdo do cabelo e uma blusinha
rosa de mangas curtas, com detalhes em rosa-choque na frente.
Fonte: Rede SACI
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