16 de ago. de 2012

Pessoas com deficiência reclamam das rampas e calçadas na Grande Tijuca, no Rio de Janeiro

Símbolo de acessibilidade é formado por diversas pessoas
Pedras, buracos, meio-fio alto, rampas de acesso quebradas ou inexistentes. Na Grande Tijuca, no Rio de Janeiro, são grandes as dificuldades partilhadas por  
 deficientes físicos, mães com carrinhos de bebê e idosos. 

O GLOBO-Tijuca levou a gerontóloga Maria Angélica Sanchez às ruas da região e constatou que, mais que o número de irregularidades nas ruas, é o descaso que transforma num inferno a vida de quem luta além de suas limitações para ter acesso a um espaço seguro em uma calçada.

Presidente do Departamento de Gerontologia da seção fluminense da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Maria Angélica aponta a falta de rampas de acesso às calçadas como o principal problema da região. Em mais de dez ruas no entorno da estação de metrô São Francisco Xavier, as poucas encontradas estavam em estado crítico e mal posicionadas.

“Em poucas ruas notamos rampas de acesso com alguma qualidade. Mas, no entorno da estação São Francisco Xavier, vimos apenas duas rampas de acesso, uma bem longe da outra”, constata.

Na falta de acesso, as pessoas com deficiência acabam, muitas vezes, usando as rampas de garagem.

“O pior é que, se acontecer algum acidente, a pessoa pode ser punida porque estava andando em área irregular. Essa rampa é para carro e não para pessoas”, afirma Maria Angélica.

A gerontóloga afirma ainda que não é só na rua que os pedestres e cadeirantes estão correndo riscos. Nas calçadas, mesmo nas que estão em boas condições, uma grande quantidade de obstáculos também atrapalha.

“Os blocos de cimento, as bancas de jornal, o chaveiro... Tudo isso consome um espaço fundamental para a circulação segura das pessoas”, enumera.

Pentacampeão carioca de boxe, Will Ribeiro perdeu os movimentos do lado esquerdo do corpo depois de um acidente de moto, e passou a usar uma cadeira de rodas para se locomover. Ele conta que os buracos na calçada já o derrubaram várias vezes do equipamento.

“É realmente difícil andar por aqui. Outro dia, seguindo por uma calçada cheia de buracos, uma das rodas ficou presa e eu caí”, reclama.

Ribeiro não se queixa só das péssimas condições das calçadas. Ele diz que a falta de educação de motoristas, que costumam estacionar sobre o passeio ou em frente às rampas de acesso, também dificulta a locomoção.

Em uma das rampas da Rua Mariz e Barros, na esquina com a Rua São Francisco Xavier, O GLOBO-Tijuca flagrou dois exemplos claros do que diz o ex-pugilista e outros moradores da região. Um táxi estacionado em frente a uma rampa de acesso, que estava destruída. Neste momento, uma mãe empurrando seu filho em uma cadeira de rodas teve que se esforçar para conseguir subir na calçada.

“Tenho dificuldade de empurrar a cadeira de rodas em função do estado precário das ruas e da falta de rampas de acesso”, desabafa a dona de casa Roberta Madeira.

As obras também são vilãs. Segundo a gerontóloga, elas não só prejudicam a conservação das calçadas, como acabam criando mais obstáculos.

“Reformas e construções geram entulho, que é colocado dentro de caçambas. E elas acabam no meio das calçadas. É mais um obstáculo. O ideal é que o entulho seja armazenado no espaço onde a obra está sendo realizada”, explica.

A aposentada Sílvia Cardoso perdeu uma das pernas e só anda com o auxílio de duas muletas. E reclama que o pouco espaço nas calçadas é mais um fator que agrava o problema da falta de rampas de acesso.

“Já tenho que fazer muita força para subir nas calçadas, uma vez que não há rampas. E o lixo e o entulho abandonados na rua dificultam não só o meu acesso, mas também a caminhada na calçada. Como se não bastasse ter que lutar para me equilibrar, tenho que desviar desses obstáculos a toda hora”, lamenta.

O militar aposentado Geraldo Pereira é outro tijucano insatisfeito: “Falta tudo para quem é deficiente. Existem lugares na Tijuca em que você simplesmente não pode andar. É um absurdo.”

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