A pressão das entidades dedicadas às crianças e jovens com deficiência surtiu efeito: o Ministério da Educação (MEC) anunciou que vai propor uma nova redação para a Meta 4 do Plano Nacional de Educação.
As entidades afirmam que, dependendo do texto a ser aprovado, há o
risco de que se acabe com o acompanhamento diferenciado oferecido em
escolas públicas para alunos com deficiência.
O MEC também informou que a Meta 4 não vai mais definir data para o fim
dos repasses do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica (Fundeb) às instituições que oferecem ensino especial, como é o
caso da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
A previsão era de que os repasses fossem encerrados a partir de 2017, o que gerou protestos.
O anúncio de uma nova redação para a Meta 4 foi feito pela secretária
de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC,
Macaé Maria dos Santos, durante audiência ontem na Comissão de Direitos
Humanos (CDH).
O Plano Nacional de Educação tramita na Casa sob a forma
de um projeto de lei, o PLC 103/2012, e a controvérsia vem atrasando a
aprovação dele.
Apesar das concessões que anunciou, Macaé fez um alerta: disse que, na
visão do governo, as instituições privadas filantrópicas e comunitárias
“precisam ir se preparando para assumir o atendimento educacional
especializado [destinado aos alunos com deficiência]”.
Contraturno
Um dos críticos à proposta que poderia dar exclusividade à rede pública no atendimento especial foi Wellington Dias (PT-PI), que é pai de uma adolescente autista.
O senador disse que muitos estudantes com deficiência não conseguem adaptar-se às escolas regulares, seja pelas próprias dificuldades ou porque as escolas não estão preparadas para recebê-los.
— Elas podem, inclusive, ficar traumatizadas com a experiência. É comum. Os pais de crianças com deficiência sabem como é esse drama, que eu vivenciei com minha esposa — disse.
Wellington afirmou que, com a redação dada à Meta 4 pela CAE (que ainda não incorporou a nova proposta do MEC), “o que fica para o ensino especializado [direcionado aos alunos com deficiência] é o chamado contraturno; é como se o estudante fosse obrigado a estudar em uma escola regular para ter direito à escola especializada, o que é inaceitável”.
— Como já disse ao ministro [da Educação], sou o líder do partido da presidente aqui no Senado, mas tenho divergências quanto a esse assunto — frisou Wellington.
Inclusão
Lurdinha Danezy, coordenadora-geral do Fórum Permanente de Defesa dos
Direitos das Pessoas com Deficiência do DF e Entorno (Faped), utilizou
argumentos semelhantes aos de Wellington ao defender as escolas
especiais.
Mãe de um adolescente com síndrome de Down, ela lembrou que
há vários tipos de deficiência (que vão da surdez e cegueira, por
exemplo, a problemas que prejudicam o desenvolvimento mental) e em
variados graus.
Para ela, “com o modelo de escola regular atual, as
escolas especiais precisam existir, porque as pessoas com deficiências
muito severas precisam desse ensino diferenciado”.
Se acabarmos com as escolas especiais, estaremos condenando muitas pessoas com deficiência a passar o resto de suas vidas dentro de casa.
Estaremos excluindo-as do convívio social - ressaltou, acrescentando que
“a escola é o ambiente ideal para o desenvolvimento cognitivo e
profissional”.
O Plano Nacional de Educação está para ser votado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ).
Fonte: Jornal do Senado
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