Cabelo tipo Chanel, óculos moderninhos, Bárbara Sagula espia, por cima
da armação, dedos deslizarem sobre cabelos longos, o secador revirar
mechas, pentes e escovas remodelarem penteados. Presta atenção às
clientes.
São quase 18h e o salão Blend, no Itaim Bibi (na zona oeste de São Paulo),
está agitado. Bárbara também.
"A pior experiência do curso que estou
fazendo foi ter que lavar os cabelos de uma boneca", diz, séria, para
emendar com um sorriso: "Prefiro a cabeça do Rodrigo", conta,
referindo-se a um dos instrutores, Rodrigo Nóbrega.
Bárbara, 30, e outros 11 estudantes de 17 a 47 anos fazem parte do "Beleza em Todas as Suas Formas", que capacita pessoas com síndrome de Down
para atuar como auxiliares em salão de beleza.
O projeto começou no
início deste ano com uma equipe multidisciplinar que se debruçou sobre o
seguinte tema: o que é belo?
"O primeiro passo foi desconstruir os conceitos preestabelecidos pelo
mercado da moda", explica Kátia Coutinho, diretora da Alfaparf Group,
empresa de cosméticos italiana que, ao lado do Instituto Meta Social, desenvolve o trabalho.
Um dia na semana, eles passam por aulas práticas e teóricas por quatro
horas e meia. Cartoons ajudam a construir diferentes situações vivida
num salão de beleza. Por meio deles, os estudantes aprendem tarefas
como sentar direito, locomover-se, atender um cliente, lavar a cabeça de
uma madame, deixar a mesa do cabeleireiro arrumada e limpa etc.
A primeira turma se forma em dezembro. Hoje, seis estudantes
paulistanos terminam mais uma maratona: ajudar cabeleireiros a fazer a
cabeça de modelos na Beauty Fair, em São Paulo. Para o ano que vem, a
meta é capacitar 156 alunos com deficiência intelectual em cinco
capitais (mais informações em belezaprojeto.org).
"A gente sabe que pode haver rejeição. O curso inclui vivência no salão, onde simulamos uma série de situações nas quais a cliente não quer ser atendida", explica o cabeleireiro Roberto Martins, 50.
Mãe de uma menina com síndrome de Down e integrante do projeto, a
psicóloga Andréa Barbi, 43, explica que os alunos enfrentam situações
reais de rejeição e preconceito. "Confie em suas potencialidades",
ensina.
Mônica Helena Babbi, 44, uma das alunas, trabalhou dois anos num salão
no Morumbi. Diz não se importar em lavar cabelo, do tipo que for. "Só
fico muito triste em ainda ter que lidar com o preconceito."
Fonte: Folha de S.Paulo
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