Adaptações de mobilidade urbana feitas em Araraquara (SP) no segundo semestre deste ano e que custaram R$ 1 milhão foram instaladas de maneira incorreta, segundo o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, Lincoln Amaral.
Deficientes visuais encontram dificuldades para se orientar no piso tátil
colocado na Avenida Sete de Setembro, por exemplo. Em uma calçada, o
piso especial dá em um poste e em outro trecho há uma barra de proteção
na esquina, além de ter sido instalado muito próximo ao meio fio.
Segundo a Prefeitura, as adaptações servem apenas como alerta.
O atleta Fábio Scaramboni não enxerga há 6 anos e precisa da ajuda de uma bengala
para caminhar.
Ele percorreu o trecho da Avenida Sete de Setembro com
uma equipe do Jornal da EPTV e, apesar de estar acostumado a andar pelas
ruas do Centro da cidade, sentiu dificuldades com os obstáculos que
encontrou pelo caminho.
“Fiquei totalmente perdido e em vez de ajudar
pode machucar, além de ser perigoso”, comentou.
O piso tátil que foi colocado em toda a extensão confunde quem não
enxerga e precisa dele para circular. Na verdade, é uma guia que serve
apenas como um alerta com pequenas bolas. Deveria ter sido colocado só
nos locais onde existisse algum tipo de obstáculo.
Mas da forma como
está, não impediu Scaramboni de bater de frente com um poste bem no meio
do caminho. “Estou fazendo muita força no braço, não posso andar assim,
é muito perigoso”, disse.
Erros
O presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil Lincoln Amaral explica que segundo as normas da Agência Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
o correto é que as calçadas tenham um piso direcional formado por gomos
retos, e um piso de alerta que fique antes dos obstáculos.
“Esse piso é
de atenção, quando tem mudança de rumo, e aqueles de filetes é para
direcionar”, explicou.
Os dois tipos de piso especiais devem estar sempre a uma distância de
50 centímetros do meio fio e em linha reta para evitar acidentes.
Nas
calçadas da cidade, o piso também está em curvas, o que, segundo o
especialista, é um erro de projeto.
“Às vezes a calçada não permite
porque é estreita, então é melhor não colocar”, comentou Amaral.
Outro ponto perigoso é em uma esquina onde tem um orelhão. “Tem que ter
uma demarcação, como se estivesse um quadrado desenhado, em que você
chega com o piso de alerta para parar do lado do orelhão, senão vai
bater”, disse.
Reforma
O investimento nas adaptações de mobilidade urbana é de cerca de R$ 1
milhão, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Urbano.
“É melhoramento
na parte de trânsito, tráfego e na acessibilidade da
maioria da população, tanto para idosos, gestantes, pessoas com
mobilidade reduzida, todo mundo”, explicou a secretária Alessandra de
Lima.
A secretária diz ainda que a intenção é que o piso fosse usado como
sinalizador e que em alguns pontos a calçada tem menos de 1,5 metro de
largura e por isso não foi possível colocar o piso que serviria de guia.
“É mais para que as pessoas vejam que há um alerta, não é para que o
deficiente visual ande por ele, é para que ele sinta que está diferente e
na textura, que é a bolinha, perceba que tem um obstáculo.
E está na
calçada inteira porque tem o obstáculo de nível de guia, dos postes e o
rebaixamento da guia e se eu colocasse o piso direcional em um metro de
largura eu teria dificuldade com os outros pedestres que não são
deficientes visuais”, afirmou.
Fonte: G1 S. Carlos e Araraquara
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