Na turma da 5ª série da Escola Municipal Anísio Teixeira, na Costeira, em Florianópolis (SC),
o estudante Rudson Adriano Espindola Filho, 11 anos, é um aluno como
qualquer outro.
Usa o uniforme, realiza as atividades cotidianas, brinca
com os colegas, faz bagunça no recreio e aprende diariamente.
A síndrome de down
é apenas mais uma característica do menino extrovertido, que não o
impede de estar incluído na escola regular, um direito de todas as
crianças.
Convívio na Apae ajudou na adaptação
A mãe do garoto, Débora Rodrigues da Costa, não teve problemas para
matricular o filho. Ela acredita que o fato de Rudson frequentar a
escola regular e participar de atividades na Associação de Pais e Amigos do Excepcionais (Apae) ajuda no seu desenvolvimento:
— Vejo que a escola também está aprendendo com ele. O Rudson gosta
muito de estudar, mostra os cadernos, brinca com os colegas. Já tive
problemas em outras escolas e algumas creches quando ele era menor, mas
nessa está indo bem — conta Débora.
Florianópolis é pioneira
Há quase 20 anos, Florianópolis saiu na frente e começou a inserir os alunos com deficiência
na rede regular de ensino.
Com o passar do tempo, o método foi sendo
aprimorado. Hoje, são 473 estudantes que frequentam a escola regular e
recebem o atendimento especializado em salas multimeios no contra-turno.
São 22 polos, com professores especializados em educação especial
que estão em constante diálogo com o educador da sala regular.
Os
materiais também são adaptados previamente. Nos casos em que o estudante
necessita de auxílio para locomoção, alimentação e higiene, um auxiliar
é deslocado para dentro de sala. A professora Daniela Pereira Gonzaga
Luz é a encarregada no caso de Rudson.
Inclusão não é pela metade
O método adotado chamou a atenção no país, e a gerente de Educação
Inclusiva da prefeitura de Florianópolis, Rosângela Machado, participou
de uma audiência na Comissão de Educação do Senado no dia 5 de novembro
para debater o tema e mostrar porque Florianópolis é referência no
assunto:
— Defendemos o direto de todos à educação, independente do nível de
deficiência e grau de complexidade. Inclusão não existe pela metade, tem
que ser total — destacou a especialista no assunto.
Duas realidades
Na rede estadual de Santa Catarina, o modelo inclusivo começou a
funcionar em 2006. A coordenadora de educação especial, Simone Flores,
explica que nas turmas em que há algum aluno com deficiência é
contratado um assistente, dedicado a fazer as adaptações curriculares
necessárias de materiais e metodologia que permitam o aluno acompanhar.
Além disso, estes estudantes recebem no contra-turno atendimento
especializado, de acordo com a deficiência:
— Não é reforço escolar, mas sim um atendimento para as necessidades
daquele aluno. Acredito que com isso a escola está preparando para a
vida, e abrindo espaço para que todos tenham a mesma oportunidade.
Trabalho deve ser ampliado
Toda a rede municipal de educação tem cerca de 9,2 mil estudantes.
Simone explica que o processo é automatizado, e assim que um diretor
recebe a matrícula de alunos com deficiência, ele envia o processo e é
autorizada a contratação do segundo professor:
— São 4,5 mil professores, e estamos fazendo a formação de mais gente em Braile, educação física adaptada e outros cursos, mas ainda é um desafio — ressalta a coordenadora de educação especial.
Nem todas as particulares estão preparadas
Apesar da lei garantir o acesso ao ensino para qualquer pessoa, na rede
particular, a realidade é um pouco diferente.
São poucas as escolas
preparadas para receber os alunos com deficiência, e o presidente do
Sindicato da Escolas Particulares, Marcelo Batista de Sousa, diz que a
inclusão só pode ser realizada quando os alunos tiverem condições de se
integrarem, e é dever das instituições de ensino público oferecer as
vagas:
— Os serviços de educação especial deverão ser ofertados pelas escolas
particulares para os alunos que tiverem condições de se integrarem no
sistema regular de ensino. Por exemplo, sabemos que um médico
cardiologista, não é obrigado a realizar um transplante de córneas ou
cirurgia plástica, pois essa não é a sua especialização.
Não há
legislação que obrigue uma clínica psiquiátrica a realizar procedimentos
cirúrgicos. Nessa linha, defendemos que a educação especial tem que ser
tratada com a mesma consideração — disse.
Educação Inclusiva em debate
A discussão em torno da educação de crianças com deficiência está em evidência no Brasil desde que Plano Nacional de Educação (PNE) começou a ser discutido no Senado,
em 2012.
O plano contém 14 artigos e 20 metas para melhorar a educação
que devem ser cumpridas em até 10 anos. A Meta 4 do plano, que garante o
acesso à educação básica na rede regular de ensino para a população de 4
a 17 anos é alvo de polêmica.
Opiniões divididas
Um grande debate sobre o que é melhor para o desenvolvimento de pessoas
com deficiência divide opiniões entre os que querem que os filhos
frequentem somente instituições especializadas, como as Apaes, alegando
que a escola normal não está preparada para receber os alunos especiais,
e os que defendem o direito a inclusão total na rede regular, com
atendimento complementar em outra instituição quando necessário.
Modelo ideal não existe
Para a especialista em educação de pessoas com deficiência mental da Unicamp/ SP,
Maria Teresa Mantoan, não existe um modelo ideal, mas um modelo
inclusivo, que tenha como característica o respeito ao direito de todos à
educação em uma escola comum do bairro, com um atendimento adequado:
— É necessário uma mudanças de paradigmas dentro da escola, que vai
acarretar em uma mudança do ensino, na formação dos professores, e no
próprio atendimento especializado para os alunos — explica.
Para a professora, é inaceitável quando uma escola, seja pública ou
particular diz que não está preparada para receber um aluno especial:
— A rede particular faz parte do mesmo sistema de ensino brasileiro e
deve aceitar qualquer aluno. Os pais que se sentirem prejudicados devem
buscar os direitos de seus filhos na Justiça — finalizou .
A diferença entre a Apae e a escola regular
A presidente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de
Florianópolis, Arlete das Graças Torri, explica que uma instituição não
substitui a outra, são trabalhos complementares.
Para ter atendimento na
instituição na Capital, as crianças até 17 anos são obrigadas a estarem
matriculadas na rede regular de ensino:
— Alguns pais resistem a colocar na escola porque acham que lá seu
filho vai sofrer preconceito, assim como outros não querem colocar na
Apae.
A Apae tem um trabalho minucioso e de atenção especial às necessidades
de desenvolvimento de todas as funções cognitivas, como a memória, a
atenção, a percepção, o raciocínio, a linguagem, coordenação motora.
Todo o trabalho é realizado por um grupo de profissionais especializados
como fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psiquiatras, pedagogos.
O
ambiente é voltado para que a pessoa com necessidades especiais se
desenvolva e esteja pronta para integrar a comunidade, para ser
independente ao máximo e poder se inserir também no mercado de trabalho.
Fonte: Hora de Santa Catarina
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