Implante intraocular desenvolvido com o apoio da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP deve melhorar a visão de pacientes que apresentam edema de mácula, um inchaço na área central da retina decorrente de oclusão vascular.
O implante, resultado de dez anos de pesquisas, foi testado em dez pacientes que participaram de estudo clínico no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCFMRP).
Os resultados mostraram que o medicamento age em doenças vasculares da
retina que levam à redução da visão e, em casos mais avançados, à
redução da cegueira. Agora, os pesquisadores seguem para a segunda parte
da fase de estudos, cujo início está previsto para janeiro de 2014,
quando poderão participar em torno de 50 pacientes.
A técnica foi desenvolvida pelo oftalmologista Rubens Siqueira, médico
assistente do Serviço de Retina e Vítreo do HCFMRP, em parceria com os
professores Rodrigo Jorge, do Setor de Oftalmologia FMRP, e Armando da
Silva Cunha, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG).
Segundo Rodrigo Jorge, uma vez aprovado, o tratamento poderá beneficiar
vários pacientes portadores de doenças da retina, como a retinopatia
diabética, a uveíte (inflamação da úvea, formada pela íris, corpo ciliar
e coroide), a degeneração macular e outras, as quais afetam
principalmente a população mais idosa, entre 50 e 70 anos. Doenças que
afetam cerca de 30 milhões de pessoas atualmente no Brasil.
O trabalho foi apresentado este ano durante Congresso Internacional da
Sociedade Americana de Especialistas em Retina, em Toronto, no Canadá.
Sobre o implante
O implante tem aproximadamente o tamanho da ponta de um lápis e
consiste na associação de um componente biodegradável (PLGA) associado a
um medicamento, neste caso, a dexametasona.
Este dispositivo, que é
implantado dentro do olho, usa a tecnologia de liberação prolongada de
medicamento, fazendo com que ele se dissolva dentro do olho por
aproximadamente 6 meses, sem a necessidade de o paciente usar colírios
ou medicamentos orais durante este período.
Além da uveíte e da retinopatia diabética, outras doenças podem ser
tratadas por meio da utilização do implante: toxoplasmose ocular,
degeneração macular relacionada à idade e retinite por citomegalovírus e
endoftalmite.
Inicialmente destinado para o tratamento de doenças da retina, o
implante poderá futuramente ser utilizado também no tratamento de
doenças localizadas em outros órgãos e tecidos do corpo, podendo
melhorar o tratamento e evitar efeitos adversos decorrentes da
administração sistêmica de fármacos.
No Brasil, não há nada similar disponível no mercado. Nos Estados
Unidos e Europa, um dispositivo semelhante, denominado OZURDEX, de alto
valor financeiro, em torno de R$ 6.200,00, já é comercializado, mas a
venda ainda não foi liberada no Brasil.
Apesar de ainda não haver previsão de custo do implante desenvolvido
pela equipe brasileira, Rubens Siqueira acredita que a grande vantagem
em relação ao importado será o custo mais baixo e a maior facilidade de
implantação no olho, pois foi desenvolvido com um diâmetro menor que o
produto importado.
Também não há ainda previsão para início da comercialização, mas os
testes clínicos em pacientes estão em fase avançada, o que constitui um
pré-requisito para sua liberação.
Uso do implante na veterinária
O implante é aguardado com grande expectativa na área de medicina
veterinária, não só pelo tratamento oftalmológico em si, mas pelas
possibilidades de tratar outras doenças, utilizando o mesmo sistema de
liberação de fármacos. Isso pode significar menor gasto com importação
de produtos e impostos, além de valorizar uma tecnologia nacional.
Uma das vantagens deste sistema é a facilidade de aplicação, o que
favorece, por exemplo, donos de animais agressivos ou aqueles que têm
pouco tempo para as constantes administrações de medicamentos requeridas
para terapêutica oftalmológica tópica.
Nos animais selvagens, criados
em zoológicos ou criadouros conservacionistas, onde a contenção para
tratamento pode apresentar risco de morte para algumas espécies, os
sistemas de liberação de fármacos podem ser decisivos para manutenção da
visão ou cura de doenças.
Outro benefício refere-se à possibilidade de liberar apenas uma
quantidade controlada de medicamento por longos períodos (seis meses),
permitindo maior eficiência no controle de doenças. Doenças oculares
representam até 80% dos casos de oftalmopatias diagnosticados em
caninos, felinos, equinos e bovinos.
Impactos na sociedade
Os casos de diabetes estão aumentando substancialmente. Esse cenário,
segundo a OMS, coloca a doença, no Brasil e no mundo, em nível de
epidemia e com tendência a se agravar.
As complicações comprometem a
produtividade e a qualidade de vida das pessoas, aumentando as taxas de
hospitalização, gerando maior necessidade de cuidados médicos, maior
incidência de doenças cardiovasculares e cerebrais, insuficiência renal,
amputações não traumáticas de membros inferiores e cegueira por
retinopatia diabética, com danos incalculáveis para o indivíduo e
sociedade.
Segundo pesquisas, aproximadamente 40 mil pacientes com diabetes em
todo mundo tornam-se cegos a cada ano em consequência da retinopatia
diabética.
Assim, um tratamento pouco invasivo, como o implante em questão, se
oferecido no futuro gratuitamente pelo sistema de saúde será de grande
importância para a saúde dos pacientes, evitando tantas complicações e
agravos à saúde.
Fonte: Universidade de São Paulo
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