Ao
longo de 2012, o projeto contou com a participação de diversos chefs
convidados como Olivier Anquier, Bassi, Henrique Fogaça, Alessandro
Segato, Carlos Bertolazzo, Carole Crema, Checho Gonzales e André Boccato
Um chef de cozinha renomado pega os
ingredientes e ensina a uma turma atenta como se executa uma receita
simples, que pode ser feita de novo em casa.
Esse momento de atenção
exclusiva e de acesso aos segredos de cozinheiros famosos poderia ser o
sonho de consumo de qualquer amante de gastronomia, mas essas aulas não
são para alunos quaisquer.
Elas fazem parte do projeto Chefs Especiais,
que reúne crianças e jovens com síndrome de Down e lhes dá, na cozinha, a
oportunidade de desenvolver a autoestima, a coordenação motora, de
lidar com o conceito de quantidade e higiene e, de quebra, de aprender a
fazer pratos para a família.
As oficinas gratuitas, dadas pelo menos
uma vez por mês, começaram em 2006 por iniciativa do casal Márcio e
Simone Berti. Ela, advogada e jornalista, com experiência em consultoria
empresarial; ele, fabricante de panelas de ferro; ela e ele com o
desejo de participar de algum projeto de impacto social pela
gastronomia, uma paixão em comum.
“Começamos a pesquisar e percebemos
que havia muitos projetos voltados para os idosos, para a população de
baixa renda, para as crianças. Mas vimos que não tinha, na época, nenhum
que não fosse na área de saúde voltado para pessoas com síndrome de
Down”, afirma Simone.
O casal, que não tem filhos com síndrome
de Down, foi pesquisar sobre o assunto. “Percebemos que as crianças Down
estão sobrevivendo aos pais”, diz Simone.
Com essa preocupação em
mente, eles procuraram montar as oficinas para que as crianças e os
jovens conseguissem se tornar mais autônomos a partir de uma atividade
cotidiana, que é cozinhar.
“Independentemente da palavra bonita que se
use, a gastronomia está dentro de casa. Isso os empolga. Mostra, de um
jeito simples, que eles podem fazer mais do que disseram para eles que
podiam.”
Aproveitando, então, os contatos de
Márcio no mundo dos restaurantes, o casal começou a convidar chefs de
cozinha conhecidos e que já demonstravam alguma preocupação social para
ministrar as oficinas.
Nesses seis anos, algumas dezenas de
profissionais já aceitaram o convite e participaram, uma ou mais vezes,
da experiência, entre eles Olivier Anquier, Alex Caputo e Rogério
Shimura.
Os encontros duram, em média, duas horas e atendem a pessoas de
todas as classes sociais. “Atendemos tanto a famílias que moram de
favor nos fundos da igreja, quanto àquelas que têm cavalo no Jockey.
Na
hora da aula, eles estão todos de uniforme, são todos iguais”, diz
Simone.Patrocinadores e apoiadores garantem ingredientes e local
adequado para que haja ao menos uma oficina por mês.
A segunda e a
terceira oficina do mês, que ocorrem com certa frequência, têm saído do
bolso do casal. “Você veja o tamanho do meu problema. Para que a oficina
seja benfeita, não posso colocar mais que 15 alunos. Eu tenho 200
cadastrados.
Eu vou fazendo um rodízio, mas eles acabam demorando muito a
voltar”, diz Simone que, para atender a essa demanda crescente,
afastou-se no ano passado de parte de suas atividades profissionais para
fundar o instituto.
Patrocinadores e apoiadores garantem
ingredientes e local adequado para que haja ao menos uma oficina por
mês. A segunda e a terceira oficina do mês, que ocorrem com certa
frequência, têm saído do bolso do casal.
“Você veja o tamanho do meu
problema. Para que a oficina seja benfeita, não posso colocar mais que
15 alunos.
Eu tenho 200 cadastrados. Eu vou fazendo um rodízio, mas eles
acabam demorando muito a voltar”, diz Simone que, para atender a essa
demanda crescente, afastou-se no ano passado de parte de suas atividades
profissionais para fundar o instituto.
Ainda sem sede, a instituição luta para
encontrar um patrocinador para viabilizar, além das oficinas, os outros
serviços que pretende oferecer.
“Queremos construir uma cozinha-escola.
Ganhei fornos e fogões, que devem chegar hoje, mas vou estocá-los na
casa do meu sogro enquanto não encontro um lugar”, diz.
Segundo Simone, a
sede precisa ficar em um local próximo ao metrô, preferencialmente na
zona oeste, de onde vêm a maior parte das pessoas que atende e dos chefs
que dão as oficinas.
De acordo com ela, além das oficinas, o
instituto também vai trabalhar com cursos para a capacitação
profissional dos alunos, ajudando na alocação deles no mercado de
trabalho e em seu acompanhamento, para que eles se mantenham na vaga.
Também há a intenção de trabalhar com famílias de baixo poder
aquisitivo, oferecendo cursos em atividades que as ajudem a gerar renda
em casa e aulas de gestão de pequenos negócios.
“A maior parte das mães é
sozinha. Elas precisaram parar de trabalhar para acompanhar o filho”,
afirma Simone, que aponta para a possibilidade de mãe e filho
trabalharem juntos em casa. “Por que não?”, pergunta.
Para Simone, mesmo que o instituto não
tenha, de fato, começado a oferecer seus serviços, as oficinas já dão
uma mostra do impacto que ações como essa podem ter na vida da pessoa
com síndrome de Down.
O principal benefício que as aulas trazem para as
crianças e jovens, diz, é o aumento da autoestima. “Com a autoestima lá
em cima, todo o resto fica mais fácil. Eles se interessam mais em
estudar, aprendem a trabalhar em equipe, ficam mais participantes em
casa”, afirma.
A idealizadora do projeto enumera ainda outras vantagens
que tem percebido ao longo desses anos. “O conceito de quantidade, que
costuma ser muito difícil para eles, fica mais palpável quando eu falo
que 1 kg de açúcar é muito para fazer aquele doce.”
O projeto também já coleciona histórias
de superação. “Aqui cada vitória é conquistada. Você tem que ver a cara
deles quando quebram um ovo pela primeira vez.” Mas as conquistas, com a
ajuda dos Chefs Especiais, vão muito além da clara e da gema.
Simone
conta que uma das alunas das oficinas fazia também tratamento contra a
leucemia. Antes de começar a participar do projeto, ela sempre estava
com a aparência doente, desanimada.
Os remédios, diz, quase não faziam mais
efeito. Para ajudar no tratamento, Simone a convidou para participar de
todas as oficinas, excluindo-a do rodízio, e as aulas a deixaram mais
segura, confiante e feliz.
Um dia, ainda durante a quimioterapia, o
médico chamou a mãe dela e perguntou: “O que essa menina tem feito de
diferente ultimamente? Seja o que for, não a deixe parar de jeito
nenhum”. Os remédios voltaram a fazer efeito e a menina se curou. “Hoje
ela é a aluna mais mal criada que eu tenho”, conta Simone, emocionada.
Fonte: Turismo Adaptado
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