Familiares de pessoas com autismo estão organizando, para daqui a duas semanas, um grande ato, em Brasília, para pressionar o governo pelo direito de educarem seus filhos em casa ou em instituições específicas.
O movimento encontra resistência dentro do próprio universo de pais com
filhos autistas.
Há associações que defendem que o caminho para a maior
socialização é por meio da educação regular.
A divisão veio à tona após a presidente Dilma vetar, na lei que iguala
direitos de autistas aos de demais pessoas com deficiência, trecho que
deixava aberta a possibilidade de a educação do grupo ser realizada de
acordo com necessidades específicas.
"O autismo se manifesta em diferentes graus, o que vai gerar demandas
diferentes. Não é possível tratar tudo na mesma normativa", diz Berenice
Piana, mãe de um jovem com autismo e uma das principais responsáveis
pela aprovação da lei.
Entre as alegações dos que apoiam a educação segmentada estão a
exposição dos filhos ao bullying, a falta de estrutura e capacitação de
professores nas escolas regulares e a imprevisibilidade das ações das
crianças, que podem inclusive ser violentas, dentro da sala de aula.
Apaes
em todo o país dão fôlego ao pleito de quem defende a educação
especial. A instituição é a mais tradicional do país no trato com
pessoas com deficiência intelectual tanto em aspectos educacionais como
em terapias.
RECURSOS
Pelo Plano Nacional de Educação, em avaliação no
Congresso, instituição nenhuma poderá, a partir de 2016, receber
recursos públicos para fornecer ensino exclusivo a grupos com
deficiência como autistas, downs ou paralisados cerebrais, como no caso
das Apaes.
"O mundo moderno exige toda criança na escola e o governo investiu em
leis e procedimentos que levassem o país a esse patamar. Se a criança
não puder ir à escola por motivos médicos sérios, a escola deve ir à
criança", afirma o psicólogo Manuel Vazquez Gil. Ele tem um filho com
autismo em grau severo e que estuda no ensino regular.
O MEC (Ministério da Educação)
defende que é inconstitucional a manutenção das escolas especiais, uma
vez que o Brasil é signatário de convenção internacional que determina a
educação inclusiva, fornecendo os governos as condições para isso.
"Os pais precisam ter o direito de escolha de onde querem educar seus
filhos. Eles são os melhores especialistas, vivem o problema no dia a
dia", declara Piana.
Na política de educação inclusiva do MEC estão previstas ações
"intersetoriais" para atender os casos mais graves de pessoas com
deficiência na escola, que envolvem auxílio de acompanhantes, atenção à
saúde e ensino complementar.
Os contrários à obrigatoriedade do ensino regular afirmam que, na vida prática, a educação inclusiva
não tem efeito para pessoas com autismo em grau severo, que não
aprendem à contento e na escola ficam longe de cuidados da família ou de
profissionais habilitados.
A secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo,
Linamara Battistella, avalia que o debate em torno da educação de
autistas não pode ser generalizado e precisa de mais espaço.
"O conceito da educação inclusiva é para o que trabalhamos, mas é
preciso particularizar o que exige um cuidado diferenciado. Em caso de
autistas com grave dependência, talvez a escola convencional não seja o
melhor lugar."
Já a secretária municipal da mesma pasta, Marianne Pinotti, defende que
a escola regular crie condições, com a ajuda dos pais e de
especialistas, para o atendimento de qualquer criança, de acordo com
suas necessidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário